quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Culpas



Parou a chuva e foi-se o barulho gostoso dos pingos sobre o balde de metal tombado no quintal, bem embaixo da minha janela.
Foi-se o barulho dos pingos e começa a serenata dos sapos, num coaxar onde todos querem falar ao mesmo tempo, mas se entendem perfeitamente.
Aguardo o sono que há muito tempo se distanciou de mim e continuo sonhando com um mundo perfeito para o momento que estou passando. Preciso ouvir a mim mesmo para saber o que estou sentindo. É o meu momento, o mais precioso dos momentos.
Solto minha imaginação já que o físico não pode sair do lugar. Estou preso pelas grades que construí ao meu redor com as culpas, os medos, as promessas impossíveis de serem cumpridas, a palavra dada que precisa ser honrada mesmo em detrimento de minha vida, a gratidão e tantos etc.
 Percebo que o meu maior inimigo sou eu mesmo com as cobranças internas não me deixando dormir e preciso lutar contra isso, talvez enganando o meu cérebro.
  Começo então a sonhar acordado com um lugar distante, remando num pequeno barco, à luz do luar, num rio não muito caudaloso, num silêncio de vozes humanas. O barco me leva e escolho o melhor lugar para ancorá-lo. Monto minha barraca de camping, num lindo areal, branco como se nunca houvesse alguém pisado. Noite com a lua refletindo nas águas tranqüilas e límpidas do rio que me acolheu e me transportou para o paraíso.
Uso do som dos sapos para encobrir qualquer outro barulho que teimosamente queira tirar o meu sono e mergulho na viagem fantasiosa e milagrosa, mas passageira como a chuva.
Não há paz dentro de mim, minha consciência está pesada por culpas assumidas injustamente, não compartilhadas pelo egoísmo de quem as provocou e vou enganando o cérebro sentindo o sono chegando, como milagre, numa velocidade que faz com que o rio se misture com a lua e o coaxar dos sapos em vozes que não consigo decifrar e adormeço para uma noite completa de um sono profundo que pela primeira vez, em muito tempo, eu não conseguia ter.
Mas ao acordar, começa tudo de novo!
  Sei que preciso enfrentar os meus medos, os fantasmas tão fortes que parecem indestrutíveis, mas a minha paz está do outro lado desses obstáculos e tenho que superá-los para que eu possa voltar a viver,
Não sei se vou conseguir, pois me sinto fraco diante de tantos monstros poderosos que eu criei em minha cabeça, mas tenho que lutar contra eles e destruir um por um como subir numa escada, degrau por degrau, e descer do outro lado deixando o peso que carrego do lado de cá.

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