sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O Espantalho




Essa, que me lembre, foi a minha primeira poesia que fiz em minha vida
Convivi muito pouco tempo com meu avô paterno que me pedia, em segredo,
para chamá-lo de espantalho.

Havia muitas flores naquele triste jardim
Mas o que me atraia era o espantalho
Que coberto de pássaros fingia ser bravo
E de braços abertos chamava por mim

No inicio, eu fiquei assustado e com medo
Depois, com o tempo, fui me acostumando
De repente, tornava-se meu grande amigo
Por durante anos, todos os dias nos vendo

Amigo que te ouve sempre calado
Como tem que ser um bom amigo
Falava-lhe dos meus problemas
Meus medos e minhas fantasias

Nas horas em que eu me mostrava triste
O espantalho não se mexia com o vento
Nestas horas eu percebia o seu gemido
Ficava calado, mas certamente sofrendo

Quando eu estava alegre, se fazia de palhaço
Chacoalhava-se todo só para me fazer feliz
Brincava como criança e era muito engraçado
Igual a ele, nem no circo haveria de existir

Quando meu pai lia esse meu segredo
Em um diário que pensei estar perdido
Curioso, perguntou-me o seu significado
Que eu há muito tempo havia esquecido

Emocionei-me e quase sem voz
Revelei todos os segredos
Com calma, fui detalhando
Os personagens daquele tempo

O jardim era a nossa casa
Que de tão velha era triste
As flores: minha mãe, como uma rosa
E minha irmã, linda como a margarida

E o espantalho, meu querido amigo
Precisei explicar com mais detalhes
Foi alguém muito querido
Que quando partiu deixou saudades

Era um velho triste que o senhor trouxe para morar conosco
Havia perdido alguém, não me lembro, eu ainda era menino
Tinha cara de bravo, mas por dentro era como a gente
O senhor o chamava de pai e eu de espantalho, carinhosamente

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